Profissão de livreiro e de editor são discutidas em colóquio na Biblioteca Nacional Imprimir E-mail

Crise, como constante no mercado editorial, lei do preço fixo para o livro, e o futuro dos livreiros, foram temas do Colóquio promovido pela Fundação Biblioteca Nacional nesta sexta-feira, 15, com participação de livreiros, editores e professores.

 

Renato Casimiro,Thais Schettino, Anibal Bragança, Mário Feijó, Nuno Medeiros e Milena Duchiade

Renato Casimiro,Thais Schettino, Anibal Bragança, Mário Feijó, Nuno Medeiros e Milena Duchiade

 

O Colóquio “Ser editor, ser livreiro, no Brasil e em Portugal” teve mediação do professor Anibal Bragança (UFF, CNPq) e participação, entre outros, da diretora da AEL, Milena Duchiade (Livraria Leonardo da Vinci).

Para o professor Mário Feijó (UFRJ), apesar das novas tecnológias o livro permanece pois editar livros é selecionar e organizar conteúdo. Para ele a edição de livros também configura e reconfigura sociedades e o que existe hoje é uma tendência à especialização das editoras.

A pesquisadora Thais Schettino (IFCS/UFRJ) com tese de doutorado sobre o oficio de livreiro, também vê a segmentação como uma saída para as livrarias. Citou o exemplo de livrarias cariocas especializadas em música ou futebol.

Segundo ela, o IBGE não tem o livreiro como profissão e sim atividade comercial como doceiro ou florista. Mas o que o livreiro vende é serviço. No Brasil, não há cursos técnicos profissionalizantes e o conhecimento nessa área está atrelado ao modo de ação individual.

Já a profissão de editor era vista como um “clube de cavalheiros”, segundo o professor Nuno Medeiros (Universidade Nova Lisboa). Um ofício nobre. diferente e superior ao dos tipógrafos e livreiros.Defensores da liberdade e da arte, os editores teriam um dever cívico.

Depois com a chegada dos grandes conglomerados, o livro se torna um produto, projeto de investimento e começa a tensão entre cultura e comércio, principalmente pelas características pré capitalistas do setor livreiro.

Segundo Nuno, este é um setor que está sempre em crise, onde não há vencedores e nem vencidos. Já o mediador Anibal Machado ressaltou que a crise é também reflexo do declínio da supremacia da cultura impressa devido ao surgimento de novas mídias a partir do rádio.

A diretora da AEL, Milena Duchiade, falou da falta do hábito de leitura entre os brasileiros. Citou pesquisa do IBGE que aponta que, mesmo na população classe A/B do Brasil, apenas 25% das famílias têm hábito de comprar livros não didáticos.

Ela falou da concorrência feita pela venda através da internet e defendeu a lei do preço fixo para o livro. Comparou com os jornais que, em qualquer estabelecimento são vendidos pelo mesmo preço.

Sobre a lei do preço fixo, o palestrante Nuno Medeiros (Universidade Nova de Lisboa) respondeu que em Portugal ela não corrigiu muitas espertezas do mercado. Não é dado desconto no preço do livro mas são oferecidos bônus, pontos e outras vantagens.

Segundo ele, em Portugal a lei é burlada e aplicada em meio a circunstâncias abstratas e voláteis que mudam ao longo do tempo. Lá, ela estipula que ao ser lançado o livro deve ser vendido por 18 meses a preço fixo.

O mediador do debate aproveitou a deixa sobre o preço fixo para informar que numa banca no hall do auditório os livros editados pela Fundação Biblioteca Nacional estavam sendo vendidos com desconto para os participantes do evento, provocando risos na platéia.

Já o editor Renato Casimiro (EdUERJ) acredita na permanência das livrarias por que para ele elas são um lugar onde o cliente se surpreende. Na Internet, essa possibilidade é mais remota, já que os mecanismos de busca levam direto ao assunto de interesse.

Mas, segundo Renato, o leitor vadio está em baixa: aquele que se deixa levar pelo texto. Hoje a leitura é de “auto ajuda com fins específicos”. Ele diz ter experimentado a leitura como ócio e como negócio e cita o exemplo do famoso editor Enio Silveira (Civilização Brasileira).

Para Ênio, editar livros era um equilíbrio entre o feijão e sonho. Se o editor optar exclusivamente pelo feijão, ou parte comercial, ele se torna medíocre. E se optar exclusivamente pelo sonho, vai à falência.

Concordando, Milena Duchiade citou a francesa Galimard que completou 100 anos, ainda com uma estrutura familiar. Com o lucro da venda de grandes clássicos como Proust e O Pequeno Principe, a editora se permite lançar poetas desconhecidos que vendem 300 livros por ano.

Para servir de alento Thaís Schettino citou pesquisa do livro Retratos da Leitura no Brasil, organizado pelo presidente da Fundação Biblioteca Nacional, Galeno Amorin, indicando que a maior parte dos brasileiros ainda prefere as livrarias na hora de comprar livros.