Marcos da Veiga Pereira - editor - presidente do SNEL Imprimir E-mail

Por um mercado mais profissional


Tornar o mercado livreiro mais profissional e transparente é a principal proposta do editor Marcos da Veiga Pereira, que assumiu a presidência do Sindicato Nacional dos Editores de Livros -  SNEL -  em 2015 e termina este ano  o primeiro mandato à frente da entidade com vitórias nesse sentido.

Em sua gestão, o SNEL, com o instituto de pesquisas Nielsen, iniciou a divulgação mensal do Painel das Vendas de Livros no Brasil que, para o editor do site PublishNews, Leonardo Neto,  é um marco importante na indústria editorial: ”uma  ferramenta valiosa para quem tem o livro como matéria prima”.

A entidade também prepara o primeiro Censo do Livro Digital no Brasil e, pela primeira vez,  se mostra favorável a regulamentação do mercado editorial através de uma lei que já vinha sendo reivindicada pela Associação Nacional de Livrarias  e pela  AEL há muitos anos.

Com o irmão Tomás da Veiga Pereira, Marcos é sócio da Editora Sextante, uma das mais bem sucedidas do Brasil ; somente este ano colocou 39 títulos na lista dos mais vendidos do PublishNews, empatada  em primeiro lugar com a Intrínseca.

Os dois editores  são netos de José Olympio, livreiro em São Paulo na década de 30 e maior editor do país na década de 50  à frente da casa com seu nome, e filhos de Geraldo  Jordão Pereira  fundador da editora Salamandra e da Sextante.

 

 

Em sua gestão no SNEL duas metas propostas na posse foram alcançadas, a Lei das Biografias e a isenção tributária para e-books. E como ficou a Lei do Preço Fixo?

Tanto a Lei das Biografias como a isenção dos livros eletrônicos foram pautas que herdei da Sonia Jardim. Ela e o Roberto Feith, então vice-presidente, merecem o crédito. Claro que a nova diretoria encampou essas bandeiras e as levou para frente. Mas o grosso do trabalho foi feito na gestão anterior. Estamos colhendo a vitória de algo que foi plantado lá atrás. As duas outras bandeiras na nossa posse eram a Lei do Preço Fixo e a Lei do Direito Autoral.

No caso da Lei do Preço Fixo a gestão anterior da Sonia Jardim se mostrava reticente.

Não colocaria na boca da Sonia. Acho que os editores em geral e eu mesmo durante muito tempo fui uma voz contrária à Lei do Preço Fixo. Não tínhamos muita clareza de como era a aplicação da lei no mundo e do impacto realmente danoso que a concorrência passou a praticar. Achamos que a concorrência era boa. Só que ela passou a ser desleal e aí se entra em um ciclo que é impossível se manter as livrarias saudáveis.

Essa consciência veio com a chegada da Amazon ao Brasil?

Acho que não. Foi no momento em que o varejo on-line ganha relevância e começa a interferir no varejo tradicional. Você começa a ter perda de fluxo nas lojas por conta dele. Talvez a Amazon exarcebe esse momento, mas ele já estava instalado. Já vivíamos essa guerra de preços há bastante tempo. E naquela transição os editores novamente são chamados para discutir o preço fixo e talvez eu tenha exercido uma liderança no sentido de mudar a opinião dos editores porque percebi que era o momento de termos isso como uma lei. Acho que um pacto entre o mercado não funcionaria. O mecanismo deve ser legal.

Por isso o SNEL não assinou o Manual de Boas Práticas da ANL na Convenção de 2016?

Acho que sim. Ali você tem uma discussão adicional complicada que é a distribuição do livro didático no Brasil. Que me lembre vem desde os anos 60. Me lembro do meu pai e do meu avô em reuniões em que os livreiros acusavam os editores de venderem diretamente através da escola. É uma discussão que tem mais de 50 anos e me parece perdida. São formas diferentes de vender o livro. O que o editor de didáticos mais precisa é que o professor adote o livro e a livraria nem sempre atende a essa necessidade. É uma polêmica grande. É a história do ovo e da galinha. Mas quando o Bernardo me chamou para conversar sobre o mercado, falar sobre o Manual de Boas Práticas, não vi na assinatura daquele documento algo que fosse efetivo. Como presidente do SNEL não vou recomendar algo que não sinta que vá fazer uma diferença. Sou muito pragmático. Gosto que minha fala esteja coerente com minha prática. Não vi naquele documento a solução para o mercado.

A Lei do Preço Fixo tem perspectivas de ser aprovada no Brasil?

Nosso maior desafio é como convencer a sociedade de que um projeto que restringe descontos ao consumidor é benéfico para ele. Se eu publicar um artigo no PublishNews dizendo que a Lei do Preço Fixo é boa para o consumidor, tenho certeza absoluta de que vou ter 95% de comentários negativos. Para mim não há problema porque não estou em nenhum concurso de popularidade. Mas para um senador ou deputado há. Eles têm de ter um nível de convicção monumental para falar isso. Não chega a ser reforma da previdência em nível de rejeição, mas é muito grande. Dito isso, a Lei do Preço Fixo é cada vez mais urgente. A situação do mercado editorial brasileiro exige que tenhamos uma definição de lei que proteja o mercado como um todo. Esse projeto nasceu para proteger todo o ambiente do livro, não só a pequena livraria. O que está em jogo é a percepção de valor que o livro tem para a sociedade. Se o consumidor passa a acreditar que o livro só vale 70% ou 60% do preço que foi definido pelo editor, isso vira a crença dele. Tivemos uma desvalorização imensa do preço do livro ao longo dos anos. O preço até aumentou um pouco nos últimos 18 meses porque chegou a um nível em que não dava para trabalhar.

Em 2016 a parceria inédita entre o SNEL e a AEL  gerou o 1º Festival das Livrarias do Rio. Há outras formas de juntar essas  entidades às vezes tão distanciadas?

Talvez um diferencial da nossa gestão tenha sido estarmos mais abertos às entidades do livro em geral. Essa proximidade é vantajosa para todos embora nem sempre iremos chegar a um denominador comum. Durante esses dois anos e meio tivemos uma participação permanente no fórum das entidades do livro. Tivemos uma aproximação muito bacana com a AEL. Institucionalmente é muito importante estar próximo porque se discutem questões como a Lei do Preço Fixo, como a Lei Brasileira de Inclusão. Agora, o SNEL tem capacidade de influenciar os editores, mas não consegue determinar as práticas comerciais que eles vão ter. A Aleph, por exemplo, decidiu que nos próximos quatro meses fará todos lançamentos com exclusividade com a Amazon. Eles são soberanos. Você também vai ver grandes cadeias de livrarias fazendo campanhas com adesão da editora A ou B. No final é melhor quando entendemos que esses assuntos dizem respeito a todos nós. Posso nem sempre concordar com a visão que os livreiros têm, mas acho que é importante discutir, ao invés de desconsiderar.

Quais são suas discordâncias com relação às práticas dos livreiros?

Se depois da minha gestão no SNEL perguntarem: “qual a grande contribuição que o Marcos deu para a indústria editorial?”, adoraria ouvir: “o Marcos tornou o mercado mais profissional”. É preciso que as relações sejam mais profissionais: por isso trabalhamos em  questões de transparência, as pesquisas, a criação do Painel de Vendas da Nilsen, a antecipação dos resultados da FIPE, o trabalho de consignação. Acho que as relações são de muita confiança. Trabalho há 36 anos nesse mercado. Cheguei a pegar a dúzia de treze. Se vendiam doze livros mas eram entregues treze como bonificação. Em 1994, no início do Plano Real, houve uma grande transformação: o varejo deixa de viver da gestão financeira e volta à comercial, observando os parâmetros que uma gestão comercial tem: giro, margem, custos. As livrarias começam a se informatizar, e aí talvez percam um pouco na questão da qualidade do serviço. Também houve essa questão fundamental que foi a mudança do regime de compra para o de consignação. Em alguns casos, mais que a maioria, houve uma perda de gestão porque parece que o livreiro não tem responsabilidade sobre aquele estoque. Isso gera uma questão na qualidade da informação. Gera uma desconfiança entre editor e livreiro sobre a gestão dos números nos acertos de consignação. Esse ambiente nunca é favorável. Também temos investido em melhorar a tecnologia entre as partes de modo que a informação flua de uma forma mais transparente.

A tecnologia foi mais ou menos benéfica para o mercado editorial?

Vejo em dois aspectos. O primeiro é o gerencial. A própria gestão das livrarias é muito mais informatizada, o que possibilita saber o que há em um estoque com uma infinidade de itens e ver qual o giro dos livros. Onde talvez tenha havido uma perda foi no relacionamento do livreiro com o consumidor. O meu avô foi um gerente de loja na Casa Garraux e era o preferido da sociedade paulista porque conhecia os livros. Também conhecia os consumidores e fazia a junção. Temos perdido ao longo dos anos essa característica de livraria de bairro em que você lida com a comunidade do entorno. Esse atendimento personalizado foi sendo perdido e ficou  muito mais difícil. Hoje o número de lançamentos por ano, livros em que há uma aposta da editora, excluindo os livros técnicos e reedições, deve estar em torno de 10 mil por ano. São 50 títulos novos por dia útil. Lidar com isso sem tecnologia é muito complicado, mas ao mesmo tempo ela não lhe dá todas as respostas. É preciso ter um feeling; ser um profissional que conhece esses itens. Tem também o outro lado da tecnologia que são os novos formatos que, diferente das outras indústrias vieram para ocupar um espaço: o livro digital e o audiolivro. Entendo que funcionam muito bem para quem já é um leitor tradicional; ele migra com mais facilidade. Não vejo novos entrantes no livro através deles. A única diferença é que tanto no digital quanto no audiolivro é impossível ter uma grande capilaridade. Vai ser um mercado concentrado em poucos players. O livro digital está concentrado em seis grandes canais. Não adianta investir para ser a nova livraria de livros digitais. Não recomendo.

Qual sua opinião sobre o e-book, que teve queda de crescimento nos EUA e parece não ter emplacado por aqui?

A minha percepção foi de que o crescimento aqui no Brasil em 2016 foi de 20%. Neste momento estamos fazendo um censo sobre a produção e venda em 2016. Vai ser um marco. Daqui para frente teremos informação, antes era especulativo. O que sabemos é que no digital a não ficção funciona médio e a autoajuda e espiritualidade funcionam pouco. A ficção mais comercial funciona bem e pode chegar em alguns títulos a 10% das vendas. Há uma concentração muito grande da autopublicação nessa área. Se tivesse de chutar diria que na média o livro digital estaria em torno de 3% do mercado. Esse crescimento de 20% significa sair de 3% e ir para 3,6% no ano seguinte. O que continua muito pequeno. A expansão americana foi de 3% para 7%, para 15%, para 25%. Daí, ela começou a declinar no momento em que os editores conseguem estabelecer uma regra de precificação que valorize de novo o livro digital. A grande questão do crescimento do livro digital nos Estados Unidos e na Inglaterra, países onde não há Lei do Preço Fixo, é que se começou a vender o livro digital a 9,99, 7,99 e 6,99 . Na hora em que os editores dizem não, o livro é 12,99, 14,99 o consumidor recua. Mas acho uma venda mais saudável. Valoriza o livro, valoriza o autor.

Como anda no Brasil a tendência da autopublicação, que  está forte na Europa?

Conheço a experiência que a Amazon e a Saraiva têm de autopublicação. As empresas declaram números bons, positivos. Confesso que não sei qual o impacto que isso tem na indústria como um todo. Tem gente lendo. Quando você entra na Amazon e vê a página do Kindle com os 100 livros mais vendidos, pelo menos 40% são autopublicados. Você vê os preços e são bem mais acessíveis no preço. Eu adoro o que faço, adoro editar. Ser um comerciante de livros é parte do que a gente faz. Fico muito mais pleno na minha capacidade empresarial toda vez que ajudo um autor a fazer um livro melhor; quando a gente intervém e consegue construir em conjunto. Acho que essa profissão continua tendo um valor agregado muito grande. Claro que o livro autopublicado tem a sua função e, às vezes, é até uma forma de chamar a atenção para o editor que vai fazer aquele livro acontecer em uma escala maior.

Como você, engenheiro por formação se tornou um editor de livros?

Sempre fui muito bom em matemática e física. Exatas eram um brinquedo para mim. Em umas férias de julho fiquei doente e fiz todos os exercícios de matemática do livro para o segundo semestre. Gosto muito, brinco com os números. Quando comecei a faculdade de engenharia decidi que queria trabalhar. Já ganhava um dinheiro meu desde os 16 anos com aula particular de matemática. Mas meu pai disse para ir trabalhar com ele na Salamandra. Fui em primeiro de fevereiro de 81, como está na minha carteira profissional. Fui trabalhar na mesa do meu pai, com quem tinha uma relação muito próxima. Era uma mesa grande e fiquei em um cantinho fazendo coisas como datilografar cartas, fazer mala direta. Mas tem um momento marcante, em 82, quando ele contrata a Ana Maria Machado para dar uma consultoria já que tinha resolvido só fazer livro infantil. Ela chega junto com a Ruth Rocha que lê para o meu pai o livro O que os olhos não vêem. Eu disse “Uau, esse negócio de editar livros é muito bacana Você conhece gente muito legal”. E fui me envolvendo. Meu pai me levou para São Paulo para conhecer gráfica, ver fotocomposição. Tive um professor extraordinário, que era um dos melhores amigos que tive na vida. Aí você entende o que é esse vírus do livro. E ter uma mente lógica, processual, engenheira me ajudou muito como empresário. Tive esse ganho de poder ter o encanto pelo livro mas ao mesmo tempo olhar para ele de uma maneira pragmática, empresarial.

Em que momento surgiu a editora Sextante?

A Salamandra fazia livros infantis e livros de arte, projetos especiais. Em 92 houve duas grandes rupturas que determinam o nascimento da Sextante. Tomás, meu irmão caçula, volta do intercâmbio sem saber onde irá trabalhar e digo a ele: ”Acho que você tem uma contribuição enorme para a editora. Você tem uma cabeça diferente.” A outra foi que meu pai leu o livro Muitas vidas, muitos mestres, do Brian Weiss e ficou fascinado.Eu disse que não tinha nada a ver com o que fazíamos mas que o livro era realmente muito bom e podíamos publicá-lo. Era uma época de crise, no início dos anos 90, com hiperinflação, quando a Salamandra perdeu a capacidade de se diferenciar de grandes editoras como Ática, Companhia das Letrinhas e outras que competiam nessa área. Como não conseguíamos ser mais diferentes na parte infantil decidimos vendê-la e começar algo novo. Conversamos com o fundador da Moderna, Ricardo Feltri, que mostrou interesse exatamente só na parte infantil. Então ficamos com a parte adulta e criamos a Sextante em fevereiro de 98. Migramos os títulos, eram cerca de 15. A gente estava começando a fazer livros de espiritualidade e migramos para a autoajuda. Foi uma coisa construída lentamente. A editora nasceu sem nome. A empresa se chama GMT que é Geraldo, Marcos e Tomas Editores. Começamos a pensar qual a missão da nossa empresa para descobrir um nome. Queríamos publicar livros que ajudassem as pessoas a encontrarem um caminho espiritual, da paz, da felicidade. Daí surgiu a palavra sextante.

Você é uma pessoa ligada à espiritualidade?

Não particularmente. Sou uma pessoa melhor do que era. Os livros da editora efetivamente trazem uma contribuição enorme para as pessoas. Mas há uma essência fundamental. Meu pai e minha mãe sempre foram pessoas que queriam transformar o mundo fazendo o bem. Sempre vivemos com essa fé. Não tanto a fé religiosa mas a espiritual; fazer o bem é a coisa mais importante. Quando fiz primeira comunhão a minha mãe disse:” Você entende o significado da palavra comungar? Não é comer a hóstia. É estar próximo das pessoas. Comungar é entender, é aceitar, é essa troca.” Continuo bastante pragmático mas acho que ser justo, trabalhar em conjunto, ter ética, são valores que existem. Sou uma pessoa muito competitiva. Não sou o bonzinho, mas espero ser justo nas minhas relações. Acho que Geraldo e Tomás foram os grandes editores, as pessoas que formaram esse catálogo. Tomás é quem traz o Dalai Lama no começo da editora. Tem o papai que lá atrás tinha falado do Brian Weiss e em 2003 traz o Código da Vinci. Hoje a Sextante tem um catálogo de mil e cem livros. O mais difícil quando se alcança o resultado que tivemos é manter os fundamentos.  Ter um mínimo de humildade e achar que não chegou lá. Que precisa continuar trabalhando muito. É preciso uma equipe que tenha o mesmo espírito. A questão de crescer é ter de confiar em muito mais gente. É preciso manter a jovialidade. Quando completamos 15 anos fiz um discurso em que disse: “Há 15 anos nascia uma editora que queria mudar o mercado com uma ideia totalmente diferente de fazer livros mais acessíveis, com tiragens maiores, com investimento maior em divulgação. Acho que criamos um paradigma. Hoje está nascendo uma editora que vai mudar o mercado nos próximos 15 anos. Temos a opção de ser essa editora ou de deixar que uma nova editora assuma esse papel”.

E quando surgiu a Arqueiro?

A Arqueiro surgiu um pouco depois da morte do papai. Estávamos procurando uma marca para os nossos títulos de ficção e queríamos homenagear o Geraldo. Então descobrimos a foto dele com o arco e flecha. Na verdade o papai era um grande jogador de sinuca. Era muito bom. E é aquele mesmo olho do arqueiro; a capacidade de visualizar exatamente onde você quer acertar. Não dava para botar o nome Sinuqueiro então vimos essa foto em que ele está em um resort com um arco e flecha. Queríamos passar a ideia de que você tem um alvo preciso. A maior editora de livro de entretenimento no mundo é a Random House, que quer dizer casa aleatória. Significa que a atividade editorial é aleatória. Que sempre foi a crença do mercado editorial e continua válida, porque não há certeza, não há fórmula. Quando a Random House foi fundada havia muito menos ciência, menos informação e muito mais instinto. Papai adorava o filme Golpe de Mestre em que os caras estão sempre passando a mão no nariz. Um passava a mão no nariz e dizia: “Isso tem cheiro de sucesso”. Hoje em dia há muito mais informação para saber se tem cheiro de sucesso. Você compara com outros livros, com outros fenômenos. Mas ninguém sabe de onde virá o próximo fenômeno. Ou todo mundo sabia que O Caçador de Pipas iria virar um fenômeno? Ou que A menina que roubava livros ou A culpa é das estrelas virariam grandes fenômenos? Quando o meu pai leu o Código da Vinci, do Dan Brown, leu o manuscrito. Antes de ser publicado nos Estados Unidos. Mas ele teve a convicção absoluta de que aquele era um livro excepcional.

Como você vê o sucesso de vendas dos youtubers?

Acho normal. Talvez tenhamos passado o pico disso no final de 2015, 2016 quando foi muito forte. Os temas vão se esgotando. Mas não acho ruim, faz parte. O nosso desafio é como manter esses jovens leitores consumindo o próximo livro. Me lembro das pessoas que criticavam o Harry Potter. A quantidade de gente que veio depois... Crepúsculo, livros de vampiro . A discussão sobre criar hábito de leitura no Brasil é muito importante, porque o hábito nasce por prazer. Mesmo assim, criar o hábito com a diversidade de assuntos que temos na vida, é difícil. Você só vai criar uma relação de prazer com a leitura se você se engaja com ela. Aquela leitura escolar, obrigatória é muito questionável. Desde a minha geração já era complicado. Como mudamos esse processo? Se as pessoas estão lendo o youtuber da vez, ok. Se conseguirmos capturar 20%, 30% dessas pessoas para lerem outras coisas. Se conseguirmos convencer esses youtubers a recomendarem leituras. A tendência de vendas nos últimos anos é o público mais jovem e feminino. Os grandes fenômenos nos últimos anos são para um público mais jovem como a Jojo Moyes, o John Green, Jogos Vorazes, o Game of Thrones, que talvez seja um público mais misturado. Agora estamos em uma época em que não há nenhum grande fenômeno. Ano passado foi curioso porque tivemos a Jojo Moyes, como fenômeno mas o Harry Potter foi muito menor no Brasil que em outros países.

Como é o trabalho da Sextante e da Arqueiro junto aos livreiros?

Há muito tempo temos uma prática que hoje vários editores fazem de apresentar os livros aos livreiros. Nossa convicção é que a livraria é o grande local de decisão de compra. Posso anunciar em um ônibus ou posso comunicar na livraria o lançamento do livro. Hoje temos as mídias sociais como maior ênfase do marketing da editora e você tem o canal de vendas como ponto principal de exposição e comunicação. Lançamos uma média de 12 livros por mês, que para o nosso porte é um número bem menor que a média. Comparando com a Companhia das Letras e a Record, lançamos muito menos. Então é fundamental que você seja capaz de comunicar cada livro para que cada um tenha a chance de cumprir sua carreira. Foi um dos pontos principais de nossa estratégia a vida inteira. Ano passado em Londres participamos de um leilão e quando compramos o livro a nossa energia estava lá em cima, 110% de certeza. Então o livro entra no processo de edição e produção e é lançado. Se nesse meio tempo a energia caiu para 70% de crença, você tem um desperdício imenso. Como manter esses 110%, manter essa energia e chegar ao mercado dizendo: “esse é o livro, é o melhor thriller que lemos em muito tempo”. Estamos competindo pela atenção das pessoas. Preciso que você invista 6 ou 7 horas da sua vida para ler esse livro e eu prometo que vai ser um entretenimento sem igual. Por isso fazemos esse trabalho junto aos livreiros. É um trabalho que sempre houve por parte das editoras mas talvez o nosso seja mais consistente, um trabalho de formiguinha, de manter, de continuar, de acreditar.

Você frequenta grandes feiras internacionais como Frankfurt e Londres. Como é a relação com  as livrarias cariocas?

Confesso que frequento menos do que deveria. Devo ir umas três vezes por mês. E acabo fazendo uma coisa horrível que é ficar vendo se nossos livros estão bem expostos ao invés de observar a concorrência. Você tem de ver o que a concorrência está lançando, o tipo de capa que estão usando. Tem de ver os materiais promocionais na loja. Esse olhar mercadológico faz parte da história da profissionalização. A origem da palavra marketing é estudo de mercado, que é olhar o mercado como um todo, ver o que todos estão fazendo. Não olhar para o próprio umbigo.

Existe alguma livraria na cidade que o tenha marcado especialmente?

São muitas mas vou dar um exemplo saudosista e amoroso que é o Aloisio da Timbre. Quando meus filhos mais velhos nasceram eu ia muito ao teatro no Shopping da Gávea. Quase todo o sábado íamos ao cinema, teatro ou lanchar e sempre passava na Timbre para visitar o Aloisio,. É uma livraria pequena. Ele controlava a venda dos livros em um caderno. Ele tinha a paixão do livreiro. Se for para fazer um registro que seja o do Aloisio.

24/04/2017