Festa Literária em São Paulo Imprimir E-mail

O Primeiro Encontro Mundial de Invenção Literária, EMIL, em São Paulo ocupou 25 livrarias, além de teatros e centros culturais em 200 horas de programação com autores nacionais e estrangeiros. Mas, por falha na organização, boas atrações não foram vistas pelo público.

A realização do EMIL, entre 12 e 15 de novembro na capital paulista, partiu da idéia de que alí o acesso ao público é mais fácil, diferente de outras festas literárias como a FLIP, em Parati. Em São Paulo, a plateia seria mais heterogênea e o evento democrático com todas atrações gratuitas.

Houve literatura para todos os gostos com escritores de A à Z em espaços que iam da rua à Academia Paulista de Letras. Do prêmio Nobel de Literatura de 86, o nigeriano Wole Soyinka, à poetas anônimos da periferia de São Paulo que declamaram para os transeuntes em saraus literários à tarde no Centro.

Segundo a assessoria de imprensa do EMIL, o evento com Wole Soyinka reuniu cerca de 100 pessoas às 10 horas da manhã de domingo na Universidade Zumbi dos Palmares. Outro com bom público foi o de Gabriel Chalita, escritor e presidente da Academia Paulista de Letras, organizadora do evento, com 200 pessoas. Ainda segundo a assessoria, os saraus na Galeria Olido, na avenida São João também tiveram média de 100 espectadores.

Na Galeria Olido foi armada uma feira com escritores da periferia expondo suas obras em mesas .O poeta Antonio Miotto , do grupo Poetas do Tietê e editor dos próprios livros reclamou da concentração do evento no Centro de São Paulo. Seu público alvo, segundo ele, são alunos da periferia que não puderam participar do EMIL devido ao tempo que iriam gastar no trânsito.

Em outra mesa, João Gomes de Sá, escritor de literatura de cordel expôs seus trabalhos entre eles, uma versão em cordel de A Metamorfose, de Franz Kafka, encomendado pela editora neste ano de centenário da obra. Para ele o fato de o EMIL ser no Centro democratiza o evento e facilita o acesso para todos, mas também sugere que nos próximos  se vá para a periferia.

Enquanto isso, no palco do lado de fora da galeria Olido, Denis de Oliveira, segundo sentado à esquerda na foto, tirou o terceiro lugar no concurso de poesia e recebeu convites para participar de saraus em escolas públicas da periferia. Ele próprio, aos 23 anos, organiza saraus em São Mateus, na zona leste de São Paulo, quer estudar letras e tem como referências Renato Russo, da Legião Urbana e Eduardo, do rap e escritores da periferia.

 

Mas se na rua o EMIL juntou gente, houve falha em outros espaços. Para Ednilson Xavier, da Livraria Cortez, onde foram programados dois eventos, problemas na divulgação para as livrarias impediram um resultado mais expressivo. “ Querem fazer uma festa em sua casa mas só avisam em cima da hora. As livrarias poderiam ter tido mais tempo para divulgar para seu público. Os escritores foram os protagonistas e as livrarias as coadjuvantes”.

Na tarde da sexta feira, 13, João Anzanello Carrascoza e André Sant’anna compartilharam com 12 pessoas na Cortez além das experiências de criação literária, histórias na publicidade. Também deram nomes de autores consagrados que não fazem a cabeça deles: para o primeiro Nelson Rodrigues,” muito linear” e para o segundo Machado de Assis, “ apenas legalzinho”. No dia anterior, o escritor Frederico Barbosa, reuniu apenas metade desse público na Cortez.

O compositor e escritor Fausto Fawcett, convidado para três eventos reuniu, no primeiro, 20 pessoas; “ recorde, estádio cheio”, no segundo, na Livraria da Villa, 10, e ninguém no último onde discutiria sua obra com o também escritor Ronaldo Bressane: “o teatro fica onde só passa carro, lugar nenhum esquina com o fim do mundo. No debate anterior com o Mário Bortolotto também não foi ninguém e ficamos os quatro conversando. Valeu pelo encontro.”

Para ele, a produção foi boa na locomoção e hospedagem para os convidados mas sugere para o próximo lugares de mais fácil acesso para o público ir a vários eventos : “ No hall do hotel vários escritores reclamaram  do horário e das dificuldades para o público se movimentar ”.

No debate com a escritora e psicanalista Betty Milan na Academia Paulista de Letras o público reduzido se reuniu em torno de uma mesa. Além da literatura se falou em liberdade de expressão, psicanálise e dos atentados da noite anterior em Paris. Betty Milan disse ter chorado com a tragédia e ficado com muito medo. Ela, que residiu na França teve obras editadas alí e é autora entre outros de “Paris não acaba nunca” e “Quando Paris cintila”.

A iniciativa do 1º EMIL, louvada por todos os participantes apesar das falhas, foi da Academia Paulista de Letras em conjunto com a Câmara Brasileira do Livro, Associação Nacional de Livrarias e Abrelivros. Teve patrocínio da Prefeitura de São Paulo e apoio do Jornal Folha de São Paulo. No ano que vem tem mais.

17/11/2015