Maria Osorio Caminata - livreira colombiana Imprimir E-mail

Uma visão radical da Livraria

Livraria é espaço para a diversidade e muitos locais assim chamados não correspondem ao nome. Assim pensa a dona da Babel, livraria infantil na Colombia que esteve no Rio a convite  do Salão FNLIJ 2014.  Para Maria Osorio Caminata, promover a leitura é o mais importante e sua loja até empresta livros.

 

Maria Osorio Caminata

 

Em 2013 a Colombia foi homenageada no Salão FNLJ e Maria Osório veio como uma das representantes do país vizinho. Este ano, voltou como convidada especial para uma das mesas redondas sobre o varejo do livro infantil que teve como tema as experiências de leitura em livrarias.

A Babel, fica em Bogotá e foi inaugurada em 2001 com a intenção de mostrar , a partir do próprio nome, a diversidade cultural que se abre para as crianças através dos livros, com acervo representativo e de qualidade.

Em 2011 foi inaugurada uma biblioteca no jardim da loja com acervo diferenciado da livraria composto por cerca de mil livros que podem ser levados para casa. Segundo Maria Osorio, muitos pais acham os livros infantis caros mas, depois de levá-los duas ou três vezes pela biblioteca reavaliam seu valor e acabam comprando.

“Há muita gente que tem medo das livrarias, porque elas não estão no seu imaginário” diz ela. A biblioteca, que só funciona aos sábados, atrai o leitor também através de encontros com autores, ilustradores, hora do conto e a Gaveta da Troca em que livros trazidos de casa podem ser trocados pelos que estão à mostra.

Maria Osorio é radical na idéia do que é uma livraria. Na mesa redonda disse que a Colombia tem apenas 26 livrarias independentes e mais 52 lojas divididas entre duas redes. Depois esclarece que para ela locais com  alta segmentação na área técnica ou religiosa muitas vezes não são livrarias, mas pontos de venda de editoras.

“Uma livraria é um lugar que mescla a diversidade e é convidativa ao público” explica.” Essas outras  só convidam público muito especializado. Passamos em frente e não nos ocorre entrar. Os livreiros estão encarregados de atender a um engenheiro, a um advogado, mas não ao público em geral.” Se esses pontos fossem incluídos, a lista de independentes subiria para 200 livrarias.

Maria Osorio quer a Babel respeitada não só como um comércio mas como um espaço de cultura: “A livraria funciona porque por um lado busco alguma coisa que encontro alí, por outro cresço porque a pessoa que está alí me oferece outra coisa que não sabia que existia ou não sabia que queria. Me abre um novo panorama.”

Como no resto do mundo, muitas livrarias pequenas em Bogotá se transformaram em livrarias café mas ela garante que não é pela venda de café mas para criação de um espaço propício à conversação e diálogo entre livros. Ainda este ano a Babel ganha o seu café que foi ficando por último porque a livraria já oferece muitas outras atividades.

Em 2005 a Babel criou sua própria editora que tem 37 títulos publicados. Também é distribuidora em um mercado que apresenta mais dificuldades que o brasileiro.”A produção de livros hoje na Colombia é muito pequena, por causa da quantidade de livros espanhóis circulando.Os editores independentes são mínimos, marginais até.” se queixa.

A Espanha domina o mercado editorial de norte a sul da America Latina onde todos os países falam espanhol, à exceção do Brasil.“Todos lemos os mesmos livros espanhóis. O mercado somos nós”.explica.“Mas os livros argentinos se lêem na Argentina, os colombianos na Colombia e os mexicanos no México.”

Segundo a livreira,os espanhóis os tem convencido de que o argentino fala diferente do peruano, que um chileno e um mexicano não se entendem, que um colombiano e um argentino têm palavras muito diferentes: ”E nós estamos presos em nossos países sem nos conhecer. O pouco que se sabe é graças aos escritórios que há na Venezuela, ou no Equador.”

Para ela o papel de pequenas livrarias como a Babel é fazer explorações e liberar livros de outros países colocando-os à vista.Em 2007 formaram a Liga das Livrarias Independentes que luta  por metas parecidas com as das brasileiras como a lei do preço fixo e contra a venda de livros nas escolas pelas editoras. Lá também  essa é uma prática comum e danosa.

Embora na Colombia as compras de livros pelo governo não sejam grandes como no Brasil, a Liga  quer que elas sejam feitas nas livrarias e não nas editoras: ”Que se comprem menos livros, mas que não se rompa a cadeia do livro.Na França nada se pode comprar por fora das livrarias.”

A Liga das Livrarias Independentes também promove feiras: ”Fazemos uma seleção de livros bonitos, caros, e cada vez vendemos um pouco mais. Fazemos uma festa cultural com música, levamos autores, se lê poesia. E as pessoas se interessam cada vez mais porque há lugares onde vamos que jamais viram uma livraria.”

Quando a feira chega  a uma cidade em que há livraria, esta é convidada a se associar e participar:  "Favorecemos a imagem dela. Lhe apresentamos a editores que não conhece, a vinculamos com distribuidores. Estamos vendo as coisas de outra maneira".

Maria Osorio é arquiteta por formação mas está no ramo de livros há 30 anos. Antes de inaugurar a Babel trabalhou em uma fundação de incentivo à leitura nos moldes da FNLIJ . Seu interesse por livros foi despertado ao ir, como arquiteta, fazer a reforma em uma casa onde encontrou muitos deles.

Apesar de trabalhar com livros, a arquitetura permanece em seu olhar. Foi ela quem desenhou as barracas da Feira da Liga Independente:" Não  é só uma questão de colocar os livros à mostra. É preciso convidar, e para convidar, precisamos ter um espaço."

No Rio, ela se encantou com o tamanho das livrarias cariocas. Primeiro a Leonardo da Vinci, que já conhecia de nome como tradicional livraria da cidade. Depois a Travessa do Leblon, que foi conhecer por causa da arquitetura: " Na Colombia as livrarias são muito pequenas e há que ser bastante criativo, inclusive armando espaços para fora".