Arthur Orlando Alvares dos Prazeres - distribuidor Imprimir E-mail

O distribuidor exemplar

No mercado onde a falta de ética se alastra, ele marcou com seus príncipios e profissionalismo. Por motivos de saúde, se afastou da distribuidora Eldorado Sudeste, mas nos 21 anos que a dirigiu, não teve medo das editoras e prestigiou pequenas livrarias, mesmo as que pediam um único exemplar de livro.

 

Arthur Orlando Alvares dos Prazeres

 

" Só tenho agradecimentos a todos do ramo do livro, tive mais alegrias que tristezas" diz Arthur aos 70 anos. Com sua saída, a Eldorado Sudeste fica sob controle de sua esposa Maria Helena e dos novos sócios, Gláucio Pereira da Livraria República e Patricia Guimarães Miguel, funcionária da distribuidora há 14 anos.

Maria Helena detêm 49,5%, Glaucio 49,5% e Patrícia, convidada a tomar parte na sociedade como um presente pela sua dedicação à empresa, fica com 1%. Para ela, Arthur foi acima de tudo um líder que soube atender com a mesma dedicação as grandes e pequenas livrarias, um exemplo pessoal e profissional.

Em 2010 a Eldorado Sudeste foi homenageada pela AEL com o prêmio Amigo do Livro na categoria Melhor Distribuidora. Arthur Orlando diz que para ele foi uma honra e que suas brigas com editoras sempre giraram em torno de divergências na prática de descontos que privilegiavam as grandes livrarias.

Para Milena Duchiade, da Livraria Leonardo da Vinci, ele é exemplo de distribuidor ético e corajoso, comprometido com o oficío e sem medo de brigar pelo que considera correto, mesmo sofrendo as consequências.

Ela cita a a primeira edição do Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa: " O editor fixou o mínimo de 100 exemplares para cada compra e não informou o preço de venda ao público. A Eldorado Sudeste recusou essa condição e abriu mão de comercializar a obra aguardada com expectativa há anos."

Milena lembra que a Eldorado Sudeste também não distribuiu o primeiro livro da série Harry Potter, que todos sabiam que seria um best seller também no Brasil: " O editor não fixou o preço de capa , deixando o mercado livre para vender como preferisse. Novamente o sr. Arthur não se prestou a esse papel.

Hoje, Arthur vê como " péssima e injusta com os livreiros" a prática das editoras de vender livros nas escolas: " Isso ocasiona a busca de descontos cada vez maiores junto aos editores". Diz concordar plenamente com a lei de preço único para o livro novo como existe em países da Europa e America Latina.

Na área da distribuição, reclama que o preço do frete onera cada vez mais a possibilidade de o disribuidor fazer um bom trabalho. Acha que é inevitável a adesão dos livreiros as novas tecnologias como internet e e-books e que quem não o fizer terá prejuizos.

Ele começou no ramo livreiro em 1965 como gerente de vendas da Record. Depois, teve um convite de Carlos Lacerda, ex governador do estado da Guanabara, dono da Nova Fronteira, para distribuir seus livros. Arthur recusou e disse que para se tornar distribuidora a editora precisava de um livro que fosse o carro chefe.

A oportunidade surgiu com o lançamento pela Nova Fronteira do Dicionário do Aurélio, um grande sucesso que durante um tempo levou o próprio Aurélio Buarque de Hollanda diariamente à sede da editora para autografar exemplares enviados aos leitores pelo reembolso postal.

Depois o próprio Arthur teve a idéia de fazer o Mini Dicionário do Aurélio, outro grande sucesso. Segundo Maria Helena, Carlos Lacerda tinha total confiança em seu marido mas Arthur descontente com a má administração da editora na ausência do dono , envolvido com a política, se mudou para a Francisco Alves.

Pouco depois Carlos Lacerda o chamava de volta prometendo carta branca para tirar a empresa do vermelho. Maria Helena guarda plastificado um memorando de Carlos Lacerda prometendo a Arthur um prêmio de 40 mil cruzeiros caso ele conseguisse vender 40 milhões líquidos em um ano:" E ele conseguiu."

Ela conheceu seu futuro marido quando os dois estavam na Francisco Alves. Reclama da dificuldade em conciliar trabalho e casamento e que Arthur é uma pessoa difícil: " Não deixava de dar uma bronca na frente de todos e levava problemas para dentro de casa. Mas eu sou calma e procurava evitar brigas".

Arthur diz que trabalhar com livro é um grande prazer e que sempre foi um leitor. Antes de começar no ramo fazia resenhas literárias para jornais cariocas. Os livros mais importantes para ele foram Crime e Castigo , de Dostoievski; Terra dos Homens, de Saint Exupery; O Processo de Kafka e Dom Casmurro, de Machado de Assis.

Depois, já como dono da Eldorado Sudeste, a obra que mais o emocionou foi As Cinzas de Angela, autobiografia de Frank MacCourt que narra a luta pela sobrevivência de uma família irlandesa na primeira metade do século passado e que foi levada para o cinema por Alan Parker.

Atualmente a Eldorado Sudeste está fechada para reformas que devem se estender por algum tempo. Com a entrada de Glaucio na sociedade, que além da Livraria República tem a Editora Quartet, a distribuidora vai ganhar uma gráfica para inclusive atender pequenas tiragens de livros.

Hoje as principais editoras representadas pela Eldorado Sudeste são Pensamento, Larrouse, e Madras ,mais as pequenas, que sempre foram prestigiadas pela distribuidora. Entre as livrarias com as quais negociou Arthur destaca a Veredas, Leonardo da Vinci, Padrão , Argumento, Timbre, Galileu, Copa Books e Gutemberg.

Solange Whehaibe da Veredas diz que Arthur foi um distribuidor excepcional e Alberto Abreu, da Padrão, há 75 anos no ramo livreiro diz " Ele nunca deixou de defender os interesses da classe livreira, sinto-me honrado em tê-lo como colega de profissão".